sábado, 27 de agosto de 2011

O rio e a lagoa

        Nascera por obra do acaso (de Deus) em um lugar remoto, quase ermo. Mantinha-se ativa pelas precipitações pluviais recorrentes naquele lugar, até que um dia as coisas mudaram. A lagoa estava morrendo afogada em seus sonhos e devaneios.
        Definhava-se aos poucos. As chuvas escassas castigavam-na mais do que a supria. A poeira do tempo trouxera-lhe sujeiras e seu brilho não era mais uma atração. Nunca, que se lembrara, havia negado água a ninguém. Animais, pessoas, plantas... a eles, generosamente servia.



        Um veio cristalino ainda teimava em alimentar-lhe, era a única prova de que ainda respirava. Rachaduras rodeavam-na e, no meio da morte, apenas um fio d'agua teimava em estar ali.
         Um dia, um gigante rio, contrariado pelo curso da vida, foi obrigado a estender um de seus braços por aquele lugar. A lagoa acordou mansamente, como quem desperta de uma lenta recuperação. Incredulidade e agonia tomavam conta dela. Havia aceitado pacientemente o dia de sua morte e agora era despertada pelo desejo de viver. O gigante estava indo embora, estava de passagem, mas a lagoa sedenta o absorveu e ele, aos poucos, inundou-a. Foi envolvendo-lhe, suprindo-lhe, despertando o desejo e a consciência de ser lagoa. O veio cristalino misturou-se às águas do gigante. Agora a água da lagoa parece ter uma milagrosa essência de cura, porque  aquela que era uma doente terminal, embora ainda elimine sujeiras de seus "poros" por causa  de seus longos dias de sequidão, demonstra vitalidade e sinal de que ainda vai viver muito com seu rio gigante que misturou-se às entranhas dela.


Suerbene Paulino

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