domingo, 16 de setembro de 2012

Por favor, não estrague!

Por favor, não estrague esse sentimento que começou a me possuir por inteiro.
Ele é doce, puro e cheio de esperança.
Por favor, não estrague os sonhos que comecei a construir quando conheci você.
Ele é realizável, lindo e humano.
Por favor, não estrague a admiração que sinto por você.
Ela é sincera, romântica e admirável.
Por favor, não sufoque o amor que está crescendo em mim como a força de um jatobá e delicadeza de uma flor. Aquele a tudo pode derrubar: preconceitos, distância, saudade, ciúmes... Esta tudo pode sufocá-la: desinteresse, mentiras, insatisfação, palavras mal ditas...
Hoje meu coração abriu-se... As feridas feitas nele estão, aparentemente, cicatrizadas. Tudo está florido. Meu coração é um jardim encantado, cheio de borboletas e regado com a brisa suave da esperança, do sonho, da alegria.
Por favor, não o despedace.

Sue Paulino

domingo, 12 de agosto de 2012

Digestão

Difícil digerir coisas. Algumas tentamos engolir, mas desce difícil e causa um mal danado.
É indiscutível as atitudes de algumas pessoas, tanto para o bem, como para o mal. Mas existem aquelas que são misteriosas, nós nunca sabemos o que há por trás do sorriso, da mão que aperta e da boca que diz coisas bonitas e das quais, por vezes, gostamos de ouvir. 
Esperar demais do ser humano só é possível se estivermos com o pé na frente e outro atrás, nunca os dois  inteiramente. Assim fica mais fácil o equilíbrio, se um puxão vier desavisadamente.
A vida vai nos mostrando por quem devemos lutar e  de quem devemos desistir. Tem coisas que, simplesmente, se digeridas, vão fazer um mal danado, alguns males irreversíveis. Portanto, devemos deixá-las para trás, mesmo que nos façam sofrer muito naquele momento. O sofrimento passa como tempo.
Quando alguém é verdadeiro com você, não há necessidade de agradá-lo, as coisas simplesmente conectam-se. Amamos o sorriso e o mal humor, a cara inchada depois de um sono pesado e a cara arrumada para uma festa. A roupa suja depois de uma faxina no quintal, e a roupa de sair para uma entrevista importante.
Tudo faz parte do cheiro, da cor, do som que  nos inebriaram desde o momento que o nosso coração passou a amaaaaar.

Sue Paulino



Alma gêmea existe?

Os chineses têm um provérbio que se aplica a esse caso: “Quando as águas se juntam, o rio se forma”. A junção das águas não se dá em muitos casos, porque buscamos no outro algo para nos preencher. E como preencher alguém que por natureza sempre terá algo a preencher? Ninguém é ou será completo. Como seres humanos, estamos sempre em busca de novos desafios, novos horizontes, pois é isso uma mola propulsora para continuarmos dando sentido à vida. Infelizmente entregamos ao outro a responsabilidade de nos fazer felizes e cruzamos os braços num tom de cobrança. Nossos olhos dizem: _ E aí? Vai me fazer feliz ou não?

"Há um provérbio francês que diz: “Existe uma alma que não tenha defeito?" O fato é que uma pessoa cujo ideal seja a perfeição não pode se apaixonar. Simplesmente porque no amor a gente dá o que não tem, deixa estar a falta e a falha. Só assim é possível enxergar o arco-íris onde ele não está e ver um céu estrelado na noite mais negra."

Entrar em um relacionamento porque o outro "vai preencher algo" é admitir que esse alguém vem com um propósito e se ele não for "competente" será descartado. Isso me soa como algo impróprio para o amor.
Amar, amar e simplesmente amar e tudo se envolve, preenche-se, doa-se, resolve-se.
Quem ama de verdade tem um pedaço de Deus dentro de si e como bom filho age de acordo com os preceitos divinos que diz: o amor é paciente.
A nossa alma gêmea nasce na convivênca, na compreensão, no amor, no dia-a-dia. Não é fast-food. Não vem pronto, demanda tempo e, principalmente: amor, muito amor. 

Sue Paulino

terça-feira, 31 de julho de 2012

O julgamento


Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco...
Reis ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia:
- Este cavalo não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo ?
O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo. Numa manhã, descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira se reuniu, e disseram:
- Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça.
O velho disse:
- Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Se se trata de uma desgraça ou de uma benção, não sei, porque este e apenas um julgamento. Quem pode saber o que vai se seguir ?
As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco. Mas, quinze dias depois, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso, ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo.
Novamente, as pessoas se reuniram e disseram:
- Velho, você estava certo. Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser uma benção.
O velho disse:
- Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas digam que o cavalo está de volta... quem sabe se e uma benção ou não? Este e apenas um fragmento. Você lê uma única palavra de uma sentença - como pode julgar todo o livro?
Desta vez, as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam que ele estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo...
O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, julgaram. Elas disseram:
- Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas, e na sua velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca. O velho disse:
- Vocês estão obcecados por julgamento. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos, mais que isso nunca é dado.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o pais entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar.
Somente o filho do velho foi deixado para trás, pois recuperava-se das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria.
Eles vieram até o velho e disseram:
- Você tinha razão, velho - aquilo se revelou uma benção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos foram-se para sempre. O velho disse: - Vocês continuam julgando. Ninguém sabe ! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus sabe se isso é uma benção ou uma desgraça. Não julgue, porque dessa maneira jamais se tornará um com a totalidade. Você ficará obcecado com fragmentos, pulará para as conclusões a partir de coisas pequenas.
Na próxima vez que você for tirar alguma conclusão apressada sobre um assunto ou sobre uma pessoa, lembre-se desta mensagem.

(Desconheço o autor)

terça-feira, 26 de junho de 2012

A lição do jardineiro


Um dia, o executivo de uma grande empresa contratou, pelo telefone, um jardineiro autônomo para fazer a manutenção do seu jardim.
Chegando em casa, o executivo viu que estava contratando um garoto de apenas 15 ou 16 anos de idade. Contudo, como já estava contratado, ele pediu para que o garoto executasse o serviço.
Quando terminou, o garoto solicitou ao dono da casa permissão para utilizar o telefone e o executivo não pôde deixar de ouvir a conversa.
O garoto ligou para uma mulher e perguntou: "A senhora está precisando de um jardineiro?"
"Não. Eu já tenho um", foi a resposta.
"Mas, além de aparar a grama, frisou o garoto, eu também tiro o lixo."
"Nada demais, retrucou a senhora, do outro lado da linha. O meu jardineiro também faz isso."
O garoto insistiu: "eu limpo e lubrifico todas as ferramentas no final do serviço."
"O meu jardineiro também, tornou a falar a senhora."
"Eu faço a programação de atendimento, o mais rápido possível."
"Bom, o meu jardineiro também me atende prontamente. Nunca me deixa esperando. Nunca se atrasa."
Numa última tentativa, o menino arriscou: "o meu preço é um dos melhores."
"Não", disse firme a voz ao telefone. "Muito obrigada! O preço do meu jardineiro também é muito bom."
Desligado o telefone, o executivo disse ao jardineiro: "Meu rapaz, você perdeu um cliente."
"Claro que não", respondeu rápido. "Eu sou o jardineiro dela. Fiz isto apenas para medir o quanto ela estava satisfeita comigo."
Em se falando do jardim das afeições, quantos de nós teríamos a coragem de fazer a pesquisa deste jardineiro?
E, se fizéssemos, qual seria o resultado? Será que alcançaríamos o grau de satisfação da cliente do pequeno jardineiro?
Será que temos, sempre em tempo oportuno e preciso, aparado as arestas dos azedumes e dos pequenos mal-entendidos?
Estamos permitindo que se acumule o lixo das mágoas e da indiferença nos canteiros onde deveriam se concentrar as flores da afeição mais pura?
Temos lubrificado, diariamente, as ferramentas da gentileza, da simpatia entre os nossos amores, atendendo as suas necessidades e carências, com presteza?
E, por fim, qual tem sido o nosso preço? Temos usado chantagem ou, como o jardineiro sábio, cuidamos das mudinhas das afeições com carinho e as deixamos florescer, sem sufocá-las?

***
O amor floresce nos pequenos detalhes. Como gotas de chuva que umedecem o solo ou como o sol abundante que se faz generoso, distribuindo seu calor.
A gentileza, a simpatia, o respeito são detalhes de suma importância para que a florescência do amor seja plena e frutifique em felicidade.
 
Desconheço o autor

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Levemente leve

Hoje eu me dei conta de que havia soltado uma aba da bolsa pesada que carregava. Senti uma leveza de repente. Respirei fundo e busquei, apenas para me certificar, o que eu realmente havia "perdido". Nada de importante.
- Entre algumas coisas velhas, encontrei um sorriso amarelado, o qual minha lembrança riscava bem desbotado.
_  Havia uma sandália desgastada pelo tempo, cuja aparência me lembrava algo muito usado e sem segurança. Usei-a para ir em busca de sonhos perdidos e jogados ao vento, não por mim, mas por pessoas que nunca souberam valorizar os sentimentos que demonstrei.
- Havia pedras também, nem sei como as guardei. Algumas pessoas sem coração as tinham jogado em mim e eu, desavisadamente, havia recolhido todas. Para quê?
- Tinha um lenço. Lembro-me de que o levava comigo, aguardando o momento em que você e outras pessoas me fariam chorar. Agora eu penso, se essas pessoas poderiam me fazer chorar, que tinha eu que seguir com elas? Esse lenço não me serve mais. Se algum dia eu chorar, vou procurar alguém que me  empreste o ombro amigo.
Em meio a esses escombros, encontrei muitos esparadrapos e gazes manchados de sangue. Usei-os quase que loucamente para sarar um coração ferido e esmurrado. Agora vejo que não preciso mais. Que bom!
Dei um revistada em minha mochila e me certifiquei de que lá havia o essencial.
_ Uma folha em branco para que eu me dê uma nova chance de escrever minha história.
_ Um papel de embrulho para guardar com carinho meus sonhos quando não puder ou não dever mostrá-los.
_ Um binóculo mágico que mostre o além, aquém de onde eu esteja, porque meus olhos fatigados teimam em ver apenas o visível e palpável. "O essencial é invisível aos olhos".
_ Levo também algumas sementes. Desejo parar em alguns lugares e deixar  plantadas algumas delas, seja de amor, amizade, cortesia, carinho, compaixão... Sei que são sementes importantes para quem deseja frutificar e seguir sempre leve. 

ahhhhhhhhhhh

É boa essa leveza. 
Em meu coração não há amarras. E ele  não é prisioneiro de ninguém. Acho que por isso, sinto-me ainda mais leve e solta.

Sue Paulino

terça-feira, 12 de junho de 2012

Nesse momento apenas

A pior coisa da minha vida, nesse momento,  é  ficar sem saber se você, que eu amo,   está bem.
Se você está feliz, se  ainda lembra que um dia abriu um coração, entrou de mansinho e
saiu sem dizer tchau.
A pior coisa da minha vida, nesse momento, é  ficar sem saber porque me deixou para trás, quando eu pensava que você estaria para sempre ao meu lado. Esqueci que " para sempre sempre acaba".
As lembranças aliam-se como carrascos que refreiam o fôlego, traz pânico, ao invés de felicidade.
Porque a lembrança vem com dose forte de saudade, de impotência, de indignação, de especulação, de incertezas.

E,  nesse momento, meu coração busca respostas de perguntas que nunca se responderão. 


Meu pensamento não sabe para onde ir, onde te encontrar, onde perscrutar. 
Meu pensamento divaga devagar sem destino, sem rumo, sem pouso.

Ainda não sei para onde ir sem você. Meus planos nessa estrada incluiam seu sorriso, suas promessas, seu amor, que não era amor, pois constatei.  


É certo que não parei... só ainda não sei para onde ir, embora saiba que devo seguir em frente.


Sue Paulino

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Desfolhada

Mal adormecera e uma leve mão tocou suas pequenas folhagens. Estava deitada na relva. Folhas secas serviam-lhe de cobertores. Era outono e as árvores despiam-se envergonhadas de suas folhas amarelas, ficavam nuas e expunham suas imperfeições. Assim como elas, o ser humano tem suas estações e tem momentos que devem, ainda que relutante, despir-se de folhas amareladas. Páginas que não fazem mais sentido estarem no  livro de planos, de projetos, de sonhos...
A mão que a tocara insistia que ela despertasse. Esboçou um bocejo, pesadamente abriu as pálpebras e voltou a dormir. Era seu tempo de dormir. Havia despedido suas folhas e agora, desnuda, aguardava em sono leve a chegada da primavera, passara por tempestadas indesejáveis, das quais tentara fugir a vida inteira, mas elas a perseguiam. Trovoadas, rajadas de vento congelantes, raios poderosos tentaram mantê-la presa em algum lugar obscuro de alguma caverna. Aquelas para onde se costuma  fugir quando não se  tem forças para enfrentar as tempestades.
Percebeu que o dono da mão que a tocara, agora sentava-se ao seu lado na relva e pegava carinhosamente sua cabeça,  protegendo-a sobre as pernas. Ele acariciava seu rosto como se quisesse perceber cada imagem, cada contorno. A árvore-mulher parecia, aos olhos dele, muito diferente em essência. O desejo dela era de manter-se dormindo, esse desejo era  maior que o carinho especial que recebia. Mesmo assim, esboçou um leve sorriso e segurou a mão que a afagava, não com desejo de refreá-la, mas de interagir.
Quanto tempo ficara ali? Não fazia ideia... só sabia que antes do tempo que havia estabelecido para acordar, acabou despertando, porque o colo daquele que a acariciava passara a ser indispensável em seu descanso.
Despertou finalmente e sorriu ao ver que quem estivera ao seu lado, enquanto dormia, era um desconhecido. Não sentiu medo, repulsa, nem indignação. Ele transmitia-lhe paz e segurança.
Recebeu-o em sua vida e gentilmente mostrou-se tal como era, sem folhas, com pequenos rebentos nascendo ainda.
Explicou-lhe em  que estação estava e seu agora companheiro parecia entender todo o processo de suas estações.
...
Sentia-se bem todos os dias.
Percebeu que não havia dores em seu coração quando uma quebra em seus galhos era inevitável.
Dividir as dores também era um unguento precioso.
A primavera aproximava-se, seu corpo estava quase completo pelas novas folhas. Uma brisa vinha visitá-los todos os dias.
Notara, entretanto, que ele parecia procurar algo nela. Rodeava-lhe, apalpava-lhe... Ela apenas o olhava e esperava uma explicação.
 Até que, em um momento do dia, sentiu que algo lhe cortava o tronco. Uma dor dilacerante tomou conta de todo seu ser. Não soube se pelo golpe, ou se por quem aplicava o golpe.
...
E ele disse-lhe: _ Não quero mais esperar por seus frutos. Preciso cortá-la  de minha vida.
Agonizante, ela pediu-lhe:
Deixe-me aqui, aqui nasci, aqui vivi. Vá embora em busca de seus frutos. Talvez alguma árvore sazonal alimente sua fome. Eu ainda estou na estação das flores, meu tempo de dar frutos ainda não chegou.

Ele se foi, tão repentinamente como entrara em sua vida.

Ela agora chorava de dor. O golpe desferido doía-lhe tanto quanto a dor secreta da decepção.
Fechou os olhos buscando dormir.
O pavor de tudo se repetir, fê-la esconder-se na caverna e sumir.
Talvez quando o golpe for curado e as dores não mais existirem, ainda que perca toda a primavera, talvez, apenas talvez,   ela saia dali.

Sue Paulino

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um mundo ideal

É certo que qualquer pessoa que leia esse post vai achar que meu mundo ideal deveria ter alguns ajustes. Afinal, essa subjetividade responsável pela singularidade de cada ser humano é o que faz o mundo ser colorido e multifuncional.
Lembro-me de uma canção de minha infância cujos versos eram:
"Se essa rua, se essa rua fosse minha,
eu mandava, eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes,
para o meu, para o meu amor passar."
Fico imaginando se a rua de fato fosse minha e eu pudesse ladrilhá-la com pedrinhas de brilhante,
talvez o meu amor não gostasse. Se ele fosse do tipo A, talvez quisesse flores, se fosse do tipo B, talvez quisesse árvores, se fosse do tipo C, talvez quisesse ouro, rubis... Talvez quisesse apenas minha companhia, ainda que a estrada fosse de barro, de madeira rústica, de pedra....
Meus amores mudam e têm vida própria. Filhos que vão em busca de suas realizações e nos deixam apreensivos, pais que partem, adoecem... irmãos que mudam de rota, que nos xingam, que nos adoram, que nos usam... amigos que são da onça ou do urso; amigos que são anjos... Todos eles são amores amordaçadores, libertinos ou encantadores. De qualquer forma, são nossos amores e se mudarmos a rua para eles passarem, cada um vai dizer o que pensou e o que mudaria.
Mas, e meu mundo ideal? Até agora só confabulei, nada disse, tudo disse, nada sei.
Ahhhhhhh, sério mesmo? Meu mundo ideal é aquele que, independente da paisagem, do chão, do dia, do tempo, o que valha mesmo, de coração, de verdade, com sinceridade, é que meus amores apenas gostem de minha companhia. O resto a gente inventa, re-inventa, investe, sonha....

 Sue Paulino


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sem saída

Todas as entradas pelas quais você acessava a minha vida foram fechadas. Todas elas por você. Exceto uma, a que eu guardava secreta no meu coração. Era uma pequena frecha pela qual ainda passava o aroma de teu hálito, o cheiro do perfume de seu peito, o som da sua voz, o sorriso...
Um pequeno espaço permitido pelo destino para me incomodar ainda com a sua presença. Sim, incômodo porque eram lembranças que mantinham você ainda vivo e eu queria sepultá-lo.
Coloquei um porta nessa frecha, lacrei-a com cimento e, na direção dela, enchi o caminho de entulhos.
Sufoquei. Estou sem respirar, morrendo pouco a pouco, pois não entendi que parte de mim era você.
Não sei como sair daqui, aguardo apenas um milagre. Talvez um terremoto que a tudo desmorone. Quem sabe a natureza possa me ajudar com um pouco de amnésia. Esquecimento total do que vivi sem viver e do que senti sem morrer.
 
Sue Paulino

quarta-feira, 2 de maio de 2012

E as respostas?

Como eu assim ninguém. Diferente de mim, todo mundo sim. Vivo em torno daquilo que estabeleci entre certo e errado e mudo meus conceitos quando estou certa de estar errada. Acuso-me de involúvel, mas meus sentimentos agridem-me por serem acusados de algo que culpa não têm.
Sendo pó e cinza procrastinado ainda a esse corpo ilusório, navego no mar do desespero sempre que comungo com ideias sinistras assim.
Tento buscar quem é o homem, o ser humano, e as respostas me vêm sem nexo. A vida me dá pedaços de um loooongo quebra-cabeças. Nunca consegui montar nem mesmo metade dele. Já me desesperei ao buscar  formas e fórmulas para achar respostas.
Entendi que não existem respostas. Só há uma confusão de desafios, que, de vez em quando, são vencidos ou transformam-se em monstros assustadores.
Alguns desses monstros ficam embaixo da minha cama, sinto medo de sair de cima dela à noite, no silêncio, na escuridão. Acho que eles vão me puxar e vão me assombrar ainda mais.
É tão bom quando nenhum deles me desperta, é tão bom quando nenhum deles atrapalham o meu sono e eu posso acordar no outro dia com o cântico do bem-te-vi.
Ouço a rua despertar preguiçosamente, estiro-me, remexo-me, abraço meu sapo Bob. Elevo meu pensamento ao céu e agradeço a Deus por mais um dia de existência.
Então a roda da vida gira, eu trabalho, corro, brinco, choro, dirijo, penso,  como, subo e desço escadas, falo e calo, durmo e acordo e Bob só sorri.

Sue Paulino

Círculos, ciclos...

Espero-te, no silêncio da ilusão, no oculto do coração, espero-te!
A boca calada e as entranhas dilaceradas pela dor que me corta.
Não tenho do que me recordar, nada há que justifique esse amar, mas amo. Um sentimento insano,
dependente, quase profano.
Envergonho-me. O que antes não fazia sentido, encheu-se de vestígios de desilusão e desespero.
A voz que me denunciou outras vezes repete: _ Não é seu.
Pode-se pertencer a outro por direito? Como? Que tipo de escravidão existe por trás disso tudo? Metafísica?
Não sei como lutar, pelo que lutar e por que lutar.
Nessa confusão de sentimentos, ando perdida, descontente da vida, sem noção.
Aguardo algo; não sei o quê? Regresso, sucesso, esquecimento, cura, morte, vida... só espero, pois estou presa sem escape. Não sei o que me aguarda. O silêncio me apavora, ninguém consegue ver além dos meus olhos, só a dor que não se vê fustiga-me nesse cativeiro.
É meu quarto ou quinto círculo? Por mais que tente andar em linha reta, a geometria insiste em me enganar. E vejo-me em círculos, ciclos, cíclico viver.

Sue Paulino

terça-feira, 1 de maio de 2012

Os Limites da Imperfeição


Existe e possivelmente jamais deixará de existir um ideal de amor, de marido, esposa, enfim um ideal de relação amorosa que se encaixe no que sempre se sonhou e que acima de tudo não dê problema, dor de cabeça, chateação, que não exija muito e que viva em perfeita sintonia.
              Quando finalmente, entra-se em uma relação, em pouco tempo fica claro o quanto esse é um sonho impossível de ser alcançado. Inicialmente até parece que houve esse encontro, que surgiu alguém perfeito, mas basta um tempo de convivência, de troca de intimidades para perceber que o outro tem falhas, características que não são as que se esperava e com as quais é necessário que se aprenda a conviver.
              Vivemos em um mundo onde lidar com aquilo que é diferente da gente, está um desafio cada vez mais difícil. O esforço acontece unicamente para aquilo que interessa enquanto todo o resto deve se ajustar ao que se espera. Pessoas impacientes, intolerantes, infelizes quando a realidade apresenta seu outro lado, o lado que demanda ajustes e adaptações. Pessoas com cada vez mais recursos externos e mais pobres internamente, quase infantis. Relações vêm sofrendo com isso, ao sinal do primeiro maior desafio, aquele que exige mais de um casal, um abalo acontece, estruturas caem e percebemos a falta de solidez e sustentação.
             Quanto mais paramentadas tecnologicamente e tecnicamente as pessoas estão, mais empobrecidas, despreparadas e carentes de recursos subjetivos que as ajude a dar conta dos desafios da vida elas também estão. Um paradoxo dos nossos tempos, pessoas que alcançam muito e no entanto, sentem-se vazias e incapazes de construir vínculos.
             A vida pode ser perfeita, mas nem tanto, o outro pode ser perfeito, mas nem tanto, você pode ser ótimo, mas lembre que nem tanto. Simplesmente porque não existe esse terreno liso, as imperfeições estão ao nosso redor e dentro da gente também.
            Sim, podemos dizer que existem defeitos e defeitos e quanto a isso não há muito o que contestar, é um fato. Existem certos hábitos e manias de um companheiro mais suportáveis enquanto outros são quase impossíveis de conviver. Cada um precisará desenvolver sua própria capacidade em lidar com tais diferenças, aceitá-las e incorporá-las à relação, saber acima de tudo o limite saudável dessa convivência.
               Possivelmente o ponto fundamental de toda essa questão seja exatamente o que diz respeito à saúde emocional do companheiro, sua e do casal. Certos hábitos são mais do que apenas hábitos, sobrepõem o que mencionei anteriormente, sobre a crescente dificuldade em lidar com as diferenças. É fundamental que se saiba a diferença entre não conseguir conviver com as imperfeições do outro por infantilidade e aquela que já faz parte de um outro terreno. O terreno que aponto é o da própria destrutividade, alguém que bebe ou fuma em demasia, que tem vícios muito mais do que hábitos, que faz dívidas, que não tem uma vida produtiva, enfim traços de uma personalidade que destroem o presente de cada um e daqueles ao redor. Esse deve ser um importante limite a ser observado e sempre considerado em um casal.
Quando o outro tende a ter uma existência infeliz e destrutiva dificilmente conseguirá ser um bom companheiro e a relação corre o risco de ser uma tábua de salvação mais do que um terreno de troca e crescimento. Essa sim é uma situação de grande frustração para aquele que investiu e apostou, essa é também uma razão justa que deve conduzir a importantes decisões. Existe uma grande diferença entre lidar com a imperfeição do outro e lidar com a destrutividade do companheiro. A imperfeição pede maturidade enquanto a destrutividade procura por limites.

parperfeito.com.br/Artigos/opshow/articleid1003/p-1/f-1/n-1/

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A bagagem

Era uma tarde fria. O sol recusava-se a surgir majestoso o dia inteiro. As nuvens densas anunciavam chuva. Um vento entrecortava o silêncio do parque. Só ele caminhava cabisbaixo por entre as árvores. Trazia uma bagagem enorme, maior que ele, que era um gigante. Alguém o observava de longe, também por entre as árvores.  O bosque tem esses mistérios. Esconde segredos, esconde amores, esconde surpresas. O semblante do gigante era de cansaço, não somente físico, mas da alma. Parecia que uma mão invisível apertava seu peito e ele, arfando, recostava-se ora em uma velha árvore, ora em uma desgastada pedra esquecida no meio de toda a natureza. Havia nele dor e marcas do tempo.
O que tinha naquela bagagem que carregava com tanto labor? Roupas, livros, toda a sua vida?
Os olhos ávidos que o observavam surgiu agora num aspecto de mulher idosa. Ela o interpelou perguntando-lhe sobre as horas. Ele, gentilmente, respondeu que eram 16:50 e já já escureceria. E fez menção de prosseguir, mas alguma coisa naquela anciã o deteve, ela resmungara algo como: _ A escuridão é ausência de luz.
_ O que disse? Perguntou ele.
_ A escuridão é ausência de luz, falou mais firmemente a estranha.
_ Claro, ausência de luz. Concordou ele.
_ Então, prosseguiu ela, aqui não tem luz, por isso a escuridão logo, logo chegará, mas se nos apressarmos, chegaremos à cidade, aquela   da colina. Tudo lá é iluminado e podemos olhar o bosque escuro lá de cima.
       Ele sentou-se no banco de pedra já carcomido pelo tempo, suspirou e disse:
_ Lá em cima? Não chegarei a tempo, minha bolsa pesa muito e me atrasa os passos. E quanto a senhora, que faz aqui sozinha?
_ É meu ofício vir aqui todos os dias e apontar para pessoas como você a cidade em cima da colina.
_ Como assim, perguntou-lhe o gigante?
_ Sei que prefere, assim como muitas pessoas, enfrentar o frio da noite e a escuridão, abrigar-se em algum lugar obscuro e providenciar um pequeno fogo, além de lamentar sua má sorte. Respondeu a senhora que não mais parecia uma estranha e, sim, um ser iluminado.
_ Pode ser mais clara? Falou com pesar o homem da mochila. Ele realmente estava querendo entender aquela conversa.
_ É simples. O que lhe impede de chegar à colina é sua bagagem pesada. Se me permitir, poderíamos, juntos, selecionar o que poderia ser deixado aqui e o que realmente deveria ser levado. Assim você não precisaria mais ficar em lugares  como esses. Escondendo-se da energia que vibra lá fora, por trás dessa aparente calmaria.
_ Olhe para mim. Disse ele, sem muita convicção.
A mulher o fitou.
_ Não, não olhe para mim, olhe a bolsa, foi isso que quis dizer, veja o que pode ser retirado daqui e me convença. Desafiou o gigante, pensando no quanto outras pessoas tentaram convencê-lo da inutilidade de tamanha bagagem.
_ Não posso fazer isso! Respondeu com rispidez a velha senhora e fez menção de ir embora.
_ Por que não pode? O gigante agora opôs-se à saída da mulher, ficando frente a frente com ela, impedindo-lhe a passagem.
_ Essa bagagem é sua, não minha. Cabe a você decidir o que tirar ou manter aí. Você já se habituou a ela e ela a você. Na hora em que decidir por mudança, abra essa mochila e verá que carregou fardos inúteis por muito tempo em sua vida. Frascos de mágoas, sacos de raiva e vingança, pedaços de autocomiseração, retalhos de inveja, espelhos refletores de sua culpa por omissão ou excesso, páginas rasgadas de capítulos interrompidos, notícias velhas, achados que já cheiram mal...
A mulher, que agora parecia transparente, sumiu por entre as árvores do bosque, deixando-o perdido em seus pensamentos.

Sue Paulino

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um tempo para o Tempo

Olhei a hora no meu relógio de cozinha. O ponteiro menor estava entre o 3 e 4, o ponteiro maior entre o 5 e 6. Parecia uma sequência programada. Os ponteiros  estavam entre um segundo e outro. Nada certo, nada definido.
Não percebi que o relógio estava parado.
Quando havia parado? Pela madrugada ou à tarde? Não me dei conta, apenas quando necessitei da precisão dele, notei que  havia estagnado. Entre um número e outro, entre um ponto e outro e nada me dava de certeza.
Não podia reclamar do relógio, ele esteve ali todo o tempo em que dele necessitei; e, quando precisou de mim para trocar suas pilhas, eu falhei. Falhei com ele e comigo mesma.
Hoje me encontro estagnada entre um ponto e outro, entre uma reflexão e outra, entre um mundo e outro, entre uma culpa e uma isenção.
Eu e o relógio  precisando um do outro, mas sem tempo para o outro. Ele não me dá seu tempo, nem dou meu tempo a ele, um tempinho apenas de trocar sua pilha.
Terei que ir ao supermercado, passar por uma fila e, o pior de tudo,  teria que enfrentar minha própria inércia. Esta que parece não ter pilha para ela.
Sorte ou sortilégio do relógio que voltará a funcionar a qualquer momento...
Quando eu voltar a viver...








Não me dei conta dessa  mudança em minha vida. Há quanto tempo estou parada? Há quanto tempo me faltam pilhas? Há quanto tempo me faltam sonhos?
O que enferrujou em mim, o que ainda funciona? Temo que essas descobertas devem ser feitas por mim, mas a inércia, ahhhhhhhhh a inércia...

Sue Paulino