No princípio, seu coração era apenas uma terra plana e limpa. A terra era fértil e de tudo que se plantava, crescia e prosperava. Ainda era uma criança e vivia livre pelas campinas. Com o tempo, a seca, as enchentes, as agruras e as intempéries da vida fizeram a terra criar também abrolhos e espinhos, por isso era necessário manter vigilância para que essas ervas daninhas não sufocassem o que tinha de precioso plantado no jardim de seu coração. Já era uma adolescente adulta e por isso buscava caminhos certos, atitudes certas, sonhos certos... Mas para sua surpresa percebeu que nada era certo e que a vida é uma bola gigante e azul, rodando em órbita e que dá muitas voltas trazendo ou separando coisas queridas e rejeitadas.
Já mulher, viu seu coração abrigar uma árvore grande, de galhos exuberantes e raízes fortalecidas. Ela fazia sombra para muitas outras árvores. Amava aquela árvore que nascera tímida e crescera como um gigante. À sombra dela, costumava sonhar, sorrir, dormir e também chorar. Fez dela o centro de seu mundo. Tudo que cultivava no jardim era para realçar o que tinha de belo na árvore.
Esperou o momento dos frutos, mas, mesmo crescida, os frutos sazonais eram poucos, quase escassos. Podia abrigar-se na árvore, mas não podia saciar sua fome que crescia dia-a-dia.
Esperou pacientemente, depois esperou angustiada, por fim esperou desesperada, até que perdeu a esperança. A árvore, a despeito do que era feito por ela, continuava sem dar quase nenhum fruto.
Chorou copiosamente quando a árvore lhe pediu que a cortasse.
Afastou-se e foi visitar seu jardim que há muito tempo não visitava, ou melhor, não cuidava. A árvore havia tomado sua atenção e percebera que havia sido relapsa com tantas coisas, inclusive com os vizinhos. Tinha gente que precisava de auxílio. Por mais distante que tentasse ficar, a árvore austera se mantinha esguia e ela podia vê-la até quando era noite.
Em suas andanças, sentiu saudade da sombra da árvore e fatigada, voltava lá, sonhava e saía. Sempre olhando com pesar para a velha árvore. Quem sabe um dia ela dá frutos, pensava.
_ Corte-me, insistia a árvore.
_ Não consigo, respondia com lágrimas nos olhos.
Ficava imaginando o que faria ao olhar o vazio que a árvore deixaria se fosse arrancada.
Um forte vendaval arrancou-lhe galhos e feriu-lhe o tronco. Sem nada poder fazer, viu que, nas raízes da árvore, algo se instalara e a corrompera. Se deixasse a árvore ali, ela contaminaria todo o jardim.
Por mais coerente que lhe fosse arrancar-lhe, seu mundo ainda girava em torno dela, assim, arrancá-la, seria extrair de dentro de si seu próprio coração.
Afastou-se novamente. Mas a saudade da sombra fê-la voltar lá.
Diferente das outras vezes, sua atenção voltou-se para uma árvore que crescia feliz ao lado da outra. Mesmo tenra, já dava sinais de que, na estação própria, daria muitos frutos, já estava crescida e disposta a ali ficar. Uma pontinha de felicidade e satisfação alentou seu coração desesperado e começou a se distrair com a nova árvore. Mas, de vez em quando, ainda recostava-se à sobra do velho pinheiro. Talvez por isso não lhe desse frutos. Sua natureza era apenas para dar sombra, não soubera ver isso.
Suerbene Paulino
Já mulher, viu seu coração abrigar uma árvore grande, de galhos exuberantes e raízes fortalecidas. Ela fazia sombra para muitas outras árvores. Amava aquela árvore que nascera tímida e crescera como um gigante. À sombra dela, costumava sonhar, sorrir, dormir e também chorar. Fez dela o centro de seu mundo. Tudo que cultivava no jardim era para realçar o que tinha de belo na árvore.
Esperou o momento dos frutos, mas, mesmo crescida, os frutos sazonais eram poucos, quase escassos. Podia abrigar-se na árvore, mas não podia saciar sua fome que crescia dia-a-dia.
Esperou pacientemente, depois esperou angustiada, por fim esperou desesperada, até que perdeu a esperança. A árvore, a despeito do que era feito por ela, continuava sem dar quase nenhum fruto.
Chorou copiosamente quando a árvore lhe pediu que a cortasse.
Afastou-se e foi visitar seu jardim que há muito tempo não visitava, ou melhor, não cuidava. A árvore havia tomado sua atenção e percebera que havia sido relapsa com tantas coisas, inclusive com os vizinhos. Tinha gente que precisava de auxílio. Por mais distante que tentasse ficar, a árvore austera se mantinha esguia e ela podia vê-la até quando era noite.
Em suas andanças, sentiu saudade da sombra da árvore e fatigada, voltava lá, sonhava e saía. Sempre olhando com pesar para a velha árvore. Quem sabe um dia ela dá frutos, pensava.
_ Corte-me, insistia a árvore.
_ Não consigo, respondia com lágrimas nos olhos.
Ficava imaginando o que faria ao olhar o vazio que a árvore deixaria se fosse arrancada.
Um forte vendaval arrancou-lhe galhos e feriu-lhe o tronco. Sem nada poder fazer, viu que, nas raízes da árvore, algo se instalara e a corrompera. Se deixasse a árvore ali, ela contaminaria todo o jardim.
Por mais coerente que lhe fosse arrancar-lhe, seu mundo ainda girava em torno dela, assim, arrancá-la, seria extrair de dentro de si seu próprio coração.
Afastou-se novamente. Mas a saudade da sombra fê-la voltar lá.
Diferente das outras vezes, sua atenção voltou-se para uma árvore que crescia feliz ao lado da outra. Mesmo tenra, já dava sinais de que, na estação própria, daria muitos frutos, já estava crescida e disposta a ali ficar. Uma pontinha de felicidade e satisfação alentou seu coração desesperado e começou a se distrair com a nova árvore. Mas, de vez em quando, ainda recostava-se à sobra do velho pinheiro. Talvez por isso não lhe desse frutos. Sua natureza era apenas para dar sombra, não soubera ver isso.
Suerbene Paulino
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