segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Incoerências

Eu queria poder falar o que sinto de vez em quando, mas as palavras emudecem e de minha garganta saem inexpressivos vocábulos.
Eu queria poder expressar os meus sonhos e anseios e fazer de você um aliado, mas fico estagnada diante da impossibilidade do vir-a-ser.
Em segundos, flashes insinuam-se em minha mente e desconsertam meu coração, recorro à consciência de minha própria (in) significância e reporto-me ao que posso e não posso mudar.
E o concerto das cordas do meu coração  em uníssono tentam, através de uma melodia de coragem e obstinação,  consertar o que talvez não tenha jeito.
Recuo, avanço, recuo, avanço e nessas idas e vindas "danço" , conforme a música da vida.
Coragem? Isso não me falta, o que me falta, talvez, seja a sensatez ou o discernimento para entender quando devo mudar de rota, já que espero resultados  diferentes e, de forma incoerente, ainda continuo na mesma estrada.

Suerbene Paulino

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

BAILE DE MÁSCARAS

           Recebera o convite ainda cedo, tinha tempo para escolher a máscara com a qual iria à festa do ano. Estava uma badalação só. Decidiu que não procuraria comprar uma máscara nova, uma vez que, ao longo de seus 35 anos, acumulara uma quantidade razoável delas. Para o trabalho tinha sua coleção pessoal que a fizera progredir e ascender a diversos cargos em variadas empresas. A que ela mais costumava usar era a do sorriso. Havia encomendado essa máscara ainda quando pequena, aprendera que com ela encantaria as mais diversas idades. Por isso sorria, mesmo quando queria esmurrar, sorria, mesmo quando queria chorar, sorria, mesmo quando parecia apática. Aquilo funcionava mesmo.

               Tinha também a que usava sempre na rua, era discreta, livre de qualquer suspeita.  Essa era  imparcial, não demonstrava emoções nem solidadariedade e ninguém conseguia ler seus sentimentos...
Usava algumas em casa para falar com os vizinhos, os parentes quando a visitavam, até mesmo para dormir não costumava ficar sem máscaras, tinha medo de que alguém a visse sem elas. Já tivera diversos namorados e mesmo com toda a vontade de acertar no uso da máscara, eles acabavam indo embora e ela voltava ao seu circulo vicioso em busca do "príncipe encantado".
Estava ansiosa naquela dia, talvez conhecesse o amor de sua vida, tinha bons pressentimentos,  por esse motivo que relutava tanto na escolha. Já escolhera a roupa, o sapato, a bolsa, as joias... mas a máscara! Nossa, essa ela ainda não tinha  conseguido.
           Ligou para algumas amigas, a fim de sondar o que elas, provavelmente, usariam. Anjo, diabinha, mulher fatal, flerte, sorriso, honestidade, vulgaridade... de tudo um pouco, cada qual com a sua justificativa.
            Já estava na hora de ir, decidira então levar a que mais lhe era comum, simpatia. Assim arrumou o cabelo, desfilou um pouco no quarto, afinal precisava ensaiar sua entrada... parou de repente,  estupefata, observou que uma estranha olhava para ela do espelho. Parecia imitá-la, quis fugir, gritar, mas o senso, tão comum em sua vida, fê-la analisar o que estava acontecendo... reconheceu a indumentária. Era tal qual a sua, até mesmo a silhueta! todavia o rosto, aquele rosto não lhe era comum, não lhe era familiar! Tentou conversar com a estranha Estranha, no entanto ouviu somente o som de sua própria voz. Tinha um desafio e não costumava fugir deles.
            Mais atenta, conseguiu finalmente decifrar o rosto daquele ser... era o seu, sem máscaras! Nossa!!! franziu a testa, que acontecera com ela? Havia perdido totalmente o refencial de si mesma, de modo que já nem mesmo se  lembrava de como era?
Teve desejo de sentar diante do espelho e re-encontrar-se, queria, entretanto, muito ir àquela festa. Assim, para não perder  o encontro consigo mesma nem com as expectativas do evento, decidiu sair sem máscaras. Estava tão admirada de sua descoberta que descartou até mesmo qualquer maquiagem.

Suerbene Paulino