quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rasgando as folhas amarrotadas

Hoje peguei o livro da minha vida para folheá-lo. Cheiro de mofo reicindiu de entre suas folhas. Aquela cena não me era incomum. Há quanto tempo percebo esse aspecto feio e mofado! Lamentavelmente, tenho tentado re-escrever uma única história e tenho deixando de lado o que de fato pode ser benéfico para mim. Essa insistência quase insana de querer que aquela história, especialmente aquela história, dê certo, é que está me deixando assim, desbotada, sem cor, sem luz, sem vida...
Olho todos os dias da vidraça da janela que ostenta meus dias aqui na Terra e percebo as mesmas estradas trilhadas. São os mesmos anseios, as mesmas desculpas, as mesmas dificuldades. Lamento por aquela história que não aconteceu, porém vejo-me a andar pelos mesmos caminhos, acompanhada das mesmas pessoas, dos mesmos sonhos - estes até se disfarçam, mas são os mesmos.
Redemoinhos que vieram me atormentar, tirarem tudo do lugar, para nada serviram, porque me vejo exatamente onde estive há 25 anos, cometendo as mesmas insanidades e tendo as mesmas esperanças. É essa história que não me permito deixar de vivê-la. Não aceito o não do destino e insisto em reescrevê-la.
Quem sabe um dia vai dar certo? Apresentam-me novas receitas, quase infalíveis no dizer do sugestivo amigo. Eu sorrio, não me vejo nessas novas veredas. É como se alguém quisesse que eu usasse a roupa de outra pessoa. Às vezes, pessoas diferentes de mim. Peso, estatura, condições físicas, tudo diferente. Como pode dar certo, se sou tão diferente? Como inovar com o que não me atrai?
Mas por que não atrai? Deveria atrair...
É porque aquela história precisa acontecer comigo. Não sei se isso pode ser chamado de persistência, fé... talvez alguns digam: é teimosia.
Não sei, só sei que ainda estou aqui, olhando esse livro com páginas amareladas e surrupiadas pela vida. Quase rasguei as páginas amarrotadas. Mas, não! retirá-las é mutilar-me, penso. Elas estão em mim e eu nelas.

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