segunda-feira, 29 de março de 2010

O vendedor de sementes

Era sempre assim...
Planejava-se todos os dias. Tinha sementes de sobra e deveria reparti-las com aqueles que nada tinham ou pouco tinham. Pensava em construir um grande jardim secreto, onde pudesse guardar todos os frutos de suas sementes espalhadas pela Terra. Seria  conhecido em todas as instâncias, principalmente no coração dos seres mais solitários, daqueles e daquelas a quem ele levou, com tanto empenho, suas preciosas sementes.
Eis, então, que ele saiu a semear. Tinha a semente da amizade. Fez muitos amigos. Seu sorriso franco, o olhar de campeão atraíam as mais diversas faixas etárias. A criançada adorava suas brincadeiras, recebiam aquelas sementes, mas, sem experiencia,  não as cultivava. Afinal, criança é assim mesmo, a gente precisa de tempo para ensiná-las a conservar e cultivar sementes, e ele não tinha tempo para ensiná-las, porque seu bordão estava cheio de sementes. Esperava que algumas tivessem sabedoria para cultivar aquelas sementinhas dadas sempre com muito empenho.
Um dia resolveu que precisava ser mais atencioso com mulheres. Não escolheria faixa-etária, afinal todas são lindas. Todas têm seu potencial. Descobriu formas e fórmulas para conservar as sementes que entregava. A essas lindas mulheres, escrevia quase que diariamente. Sua incansável tarefa depois de semear sementes era escrever.
Chegou um tempo que não dava conta de escrever tanto e resolveu descartar algumas atribuições que tinha. Afinal havia entregue a semente a cada uma delas. Tinha-lhes vendido sonhos. Elas que continuassem. Precisava alcançar novos povos.
Continuou vendendo sonhos, semeando sementes. Algumas pessoas  recebiam-nas com tanto prazer, guardavam-nas no fundo do seu mais secreto cantinho, porque pensavam ser aquelas sementes as únicas na terra.
O vendedor de sementes ficou mais velho e, cansado, queria árvores sob as quais pudesse descansar. Que é a vida senão a benção de colher o que se planta? Se ele havia semeado tanto, certamente  que iria  colher. Não pensava nessas coisas quando dedicou-se a tão empenhado ministério. Mas, agora, no fim da jornada na terra, esperava ter a sombra de uma árvore na qual houvesse amor, um lindo jardim do qual colhesse flores de altruímo, solidariedade, companheirismo... Na velhice, as nossas obras nos visitam com mais intensidade, é nela que tudo passa como filme, porque já não é mais possível voltar para semear o mais importante: o amor ao próximo.
Avistou de longe, um lindo campo verde, flores mais belas, cenário paradisíaco... Confiante, como sempre estivera, adentrou-se. Feliz, sorria satisfeito. Viveria ali pelos poucos anos que ainda teria. O mais importante, seus amigos de verdade, um amor de verdade, família, tudo deveria aparecer, afinal... ele havia semeado.
De súbito, alguém o desperta e pede que se retire, estava no lugar errado. Aquilo não lhe pertencia. Atônito, questionou. Reconheceu alguns rostos com os quais convivera em sua curta jornada em alguns ambientes, mas aqueles rostos estavam indiferentes...
Buscou explicações, todos lhe falaram: _ Suas sementes, aquelas sementes... eram todos estéreis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário