sexta-feira, 26 de março de 2010

Como um joão-de-barro

Ela era um joão-de-barro e não sabia. Seus sonhos eram todos construídos com barro, mas eram seus. Difícil trabalho, difícil labuta. Algumas vezes chorava, algumas vezes cantava. A casinha era seu refúgio. Que mal faria aos outros? era apenas sua casa. Queria um companheiro, queria um teto para os filhos.
Veio o temporal, a casa desmanchou-se. Chuva com vento. Paciencia, precisava recomeçar. E recomeçou. Procurou um lugar mais fechado, matagal mais denso. Dessa vez daria certo, a chuva e o temporal não conseguiriam derrubar mais. Menino travesso veio, olhou e empurrou. Será que ele não tinha sentimentos? Quem tem sentimentos? Quem respeita a jornada do outro. Satisfazer seus impulsos é imperativo, quem se importa com a dor do outro. Era só mais um passarinho.
Não iria desistir. Daquela vez conseguiu. Estava lá, linda. Sua linda casa. Ela cantava...cantava...
Veio a chuva forte, sua casa não se foi. Pensou: vale a pena nunca desistir.
Veio garoto com cara de "aprontação". Olharam-se... parece que ele a entendeu e foi embora. Agora, sim, tudo daria certo...
Naquele dia especial, ouviu o canto mais lindo. Era seu amor chegando. Sorriu, ruflou...
Ele veio e ficou, ficou... mas um dia partiu e não mais voltou.
Casa bonita, mata densa, menino espantado, temporal controlado, mas ela... ah! ela chorava incansável.
Para quê a casa? Para quê a vida?
Um dia o céu acordou sorrindo e mandou uma linda mensagem para ela: _ Você precisa encontrar a razão de sua vida dentro de você mesma, nada de transferir para os outros a responsabilidade de ser feliz.
Ela entendeu tudo... e voou. Deixou a casa, a mata densa e menino com cara de aprontação...
Se foi atrás do companheiro, ninguém sabe. Ela não voltou mais.
Dizem que ainda voa, voa, voa...

Crônica de autoria de marrissue.

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