segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um sonho em palavras

Acordou sedenta e depositou no travesseiro toda sua frustração. Lágrimas quentes escorriam de seus olhos ainda sonolentos. Ouvira mesmo aquelas palavras? Um Sabiá confidenciava-lhe um amor estranho. Ele se dizia eterno, quando toda a vulnerabilidade da vida impunham-lhe a fragilidade inerente. Escorregou-se pelos lençóis e viu-se tateando no escuro em busca da luz que norteasse esse aparente pesadelo. Sem fôlego, recostou-se na parede e sentiu que suas mãos tocavam em algo, parecia um papel posto na escrivaninha. Abriu os olhos, ligou a luz e leu o que o passarinho havia lhe dito em sonhos, era a resposta de uma carta amiúde, escrita há tanto tempo... o papel trazia-lhe uma confissão e resposta que  assim dizia:

"Você me pediu  por carta para que  a ajudasse  a esquecer-me, porque  julgava não correto
trazer-me  para sua vida num momento tão difícil. Tinha pedido para me afastar e eis minha resposta:
_ Li e reli sua carta, como você me pediu, e cheguei a conclusão de que, quando eu conheci você, tive a impressão de ter atravessado um mar imenso e ao chegar em terra eu destruí o barco no qual  vinha
para que não houvesse possibilidades de retorno.
Não foi você que veio até mim, fui eu quem fui até você e não pretendo, sob nenhuma hipótese, abrir mão de você. Todo amor verdadeiro passa pelas provas, vencendo-as.
Há algum tempo eu havia feito um juramento no qual firmei meu propósito de, onde quer que encontrasse meu amor verdadeiro, independentemente de onde fosse, eu iria para junto dela.
Eu quero estar ao teu lado sempre, meu amor! Se te apedrejarem, terão que fazer comigo também,
se te matarem, terão que fazer comigo também. Quero lutar com você e estar junto a ti quando ergueres a bandeira da vitória. Nós vamos vencer tudo isso e vamos juntos concluir que valeu tudo a pena.
Aprendi a respeitar seus medos, suas limitações, a saber esperar por você.
Nunca nenhum relacionamento dos relacionamentos que tive foram marcantes em minha vida o tanto que você me marcou. Eu não tenho como  esquecê-la,  deixá-la, não querer você. Eu a amo muito, minha princesa.
Quero estar ao teu lado por toda a minha vida. "

Tentou enxergar melhor o que lia, onde havia guardado aquilo que desaparecera e agora, numa visão, vem do nada e a assombra? O amor jurado era mentira, as palavras belas eram enganosas, o desejo demonstrado era uma brincadeira sem graça...
Foi à cozinha, tomou algo e, já refeita, voltou a dormir e sonhar, não mais com sabiás- laranjeiras em um parque muito verde, num dia de frio e solidão...


Suerbene Paulino


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