segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A estação

Olhou o relógio pela última vez e o jogou fora como a uma mortalha.
Aquele objeto denunciava o tempo que passara e ela nem se dera conta de que não havia mais o que esperar.
Ficara tanto tempo naquela estação esperando o próximo trem, o próximo trem, o próximo trem...
E o coração enganoso dizia, só mais uma vez, quem sabe ele vem no próximo trem...
Olhou ao redor e viu que a estação onde estivera não parecia mais ser a mesma, tudo havia mudado, exceto seu velho lugar no velho banco, que talvez alguém, num ímpeto de respeito e dó não a pediu para sair.
Não via, mas sabia que seus olhos jorravam desânimo, qualquer coisa de estático e deserto, poço fundo. Nada havia de brilho, de vida, de vigor.
Abandonou aquele lugar como quem  sai de uma caverna escura. O sol fazia seus olhos doerem e recusarem-se a abrirem-se para o mundo que deixara de viver por causa do trem, do relógio e do banco na estação.
Olhavam-na de forma estranha na rua, talvez fosse seu rosto pálido, esquálido e roupas surradas, memorial triste de quem fora uma elegante dama.
Achou sua velha casa, refúgio de seus míseros anos agora  roubados pela estação. Não tinha chave, lembrou-se de que na noite em que partira para a estação, deixara a porta encostada. Quem sabe ele voltasse e, sem chave, não teria como entrar.
Tudo estava como era antes, exceto pelo excesso de pó e mofo. Mal adentrou na casa e ouviu o ranger do portão. Seu coração eclodiu uma verdadeira guerra de sentimentos, batia acelerado e sentia a pele da face queimar. Será que ele voltara? Correu para a porta e abriu-a com ímpeto. Nada viu. Era o vento que pregara-lhe uma peça, divertindo-se de sua ansiedade crônica.
Deixou-se cair na cama empoeirada e fechou os olhos. Cansada, suspirou e dormiu como nunca mais conseguira dormir. Sentiu uma brisa beijar-lhe o rosto e, sorridente, virou-se para o outro lado e recusou-se acordar do sonho que brotara de seus anseios.

Suerbene Paulino