sábado, 28 de maio de 2011

A menina e o Tempo

Havia uma menina que queria ser moça...
 Ela imaginava que poderia ser feliz, porque seu mundo infantil era por demais incompreendido.
Tantos adultos mandando e dizendo que fazer, como fazer, por que fazer...
Um dia o Deus dos tempos permitiu que ela crescesse e uma linda moça se tornasse...
Satisfeita, a moça começou a correr campinas e descer córregos, comer frutos proibidos e buscar essências antes escondidas. Percebeu que era gostoso ser moça, ser jovem, ser bonita e viver, mas, com essa possibilidade, vinha também a responsabilidade de ser um adulto e ter que dizer "
às meninas" o que elas deveriam fazer, como fazer, por que fazer...
A moça nem percebeu que, com aqueles sentimentos todos "pesando" em seu peito, tornara-se mulher...
E viu-se, algumas vezes, perdida, buscando aquela menina que queria ser moça e tentando ser a moça que não queria mais ser menina...
Marcou audiência com o Senhor do Tempo. Ele apareceu-lhe menino, olhos vivos, nada tinha de barba branca e longa, não era corcunda e nem tinha andar manso. A mulher ficou envergonhada.  Falar com aquele menino milenar? Que lhe diria?
Tentou voltar  timidamente pelo corredor austero do tempo e percebeu na porta uma tabuleta: "Sem voltas".
Ia sair, nada falaria na audiência, quando resolveu olhar o menino novamente...
Tudo ao seu redor estava mudado, enquanto pensava, o menino fazia peraltices, ele não parou um instante de mexer na sala onde estavam.
_Que estranho! falou finalmente a mulher.
_ O que? perguntou o menino.
_ A sensação que eu tinha era de que o tempo tinha cheiro de mofo, pedra com lodo, ferrugem...
_ Todos pensam assim, falou o menino peralta. Por isso que passo na vida de muitos e eles nem percebem. O mofo, o lodo, a ferrugem existem para mostrar que alguém parou no tempo e não que o tempo parou nele.
E, segurando a mão da mulher madura, disse-lhe, com voz de homem crescido: _ Siga adiante, não tem volta para essa estrada. Se tentar voltar, atrairá mofo para suas vestes, ferrugem para seu corpo e lodo para seu sorriso.

Suerbene Paulino



sexta-feira, 20 de maio de 2011

Se eu ...

Se eu não o amasse, sairia hoje por aí em busca de uma boca sedenta para beijar...
Se eu não o amasse, poderia sobrar tempo para amar-me, mas perdi-me dentro de mim mesma por causa dessa força insana que desestrutura-me.
Se eu não o amasse, talvez fosse ver o mar, as pessoas sorrindo e sentir o vento farfalhar meus cabelos.
Se eu não o amasse, viveria bailando, cantando, dançando, sorrindo...
Se eu não o amasse, talvez encontrasse o grande amor de minha vida... (?)

Mas eu o amo e  isso tira toda a minha esperança de viver.
Queria arrebentar meu peito e arrancar sem licença alguma o que machuca meu coração: você!

Quando eu deixar de te amar, vou correr, dançar e gritar... gargalhar!
Não quero você dentro de mim, importunando-me, ditando-me o que devo fazer, só porque amo você!

Quando eu deixar de amá-lo, vou amar-me mais e nunca mais, nunca mais mesmo, amarei alguém mais que a mim mesma...
Se eu não o amasse...

Suerbene Paulino

domingo, 1 de maio de 2011

Saudade




Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda