segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Ensaios

Às vezes, sinto desejo de alçar voo. Como o dos pássaros e imagino-me entre as nuvens, rodopiando entre árvores, pousando aqui e ali, sentindo apenas o vento acariciar-me.
Às vezes, sinto desejo de mergulhar no mar, para mim, infinito, e percorrer longas distâncias e descobrir tesouros. Mas deixá-los lá, como um segredo entre a gente.  Fico imaginando se conseguiria suportar o frio das águas profundas e conhecer o que se esconde na imensa escuridão de alguns abismos.
Às vezes, no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois, conversando, rindo, amando-nos, compartilhando sonhos.  Talvez inventemos histórias e contemos absurdos. No silêncio da noite, faço de conta que ouço o ressonar de  seu descanso e aproximo-me de sua respiração somente para sentir  seu ar quente e conseguir embeber-me de você.
Às vezes, na estrada poeirenta por onde sigo, abro minha bolsa pesada de coisas inúteis e libero trecos, tralhas e até mesmo alguns tesouros, somente para poder me sentir mais leve. Como, sem querer,  ou mesmo por distração, acumulo coisas! Palavras mal ditas ( talvez malditas), fragmentos de egoísmo, pedaços de mágoas, algumas insensatezes, punhados de mesquinhez e medos que me trancafiam e impedem-me de seguir com ousadia ...
Aí , tem também algumas convicções, tesouros guardados a sete chaves, que, às vezes, eu preciso jogar fora, porque ficaram ultrapassados. Para quem? Para a vida, para a geração com quem divido meu dia-a-dia.
Talvez eu volte a pegá-las disfarçadamente algum dia e esconda-a em novas roupagens. Afinal, nada é novo, tudo aparece com maquiagem ou roupagem diferente.    
Às vezes, consigo realizar meus sonhos, porque fecho os olhos e imagino-me voando, mergulho nas profundezas de meu ser e ouso ir além do que devo, reconhecendo-me, vendo-me...
Às vezes, consigo estar com você nessa sintonia e magia que somente um coração companheiro consegue dar.
Às vezes, consigo perceber minha bolsa ainda pesada com mal humoradas conjecturas. Levo-as por “via das dúvidas”.
Percebo-me dando voltas, o círculo ora se fecha, ora se abre, ora desfaz-se. Cíclico viver, colheita  bendita ou talvez maldita, sei lá, desse meu querer.