domingo, 26 de setembro de 2010

Descartar ou reciclar?



Não saberei responder a essa pergunta em muitas situações da vida, em se tratando de atitudes coerentes quanto ao outro. Claro que é imperativo, nos dias atuais, reciclarmos as coisas, mas ninguém quer perder tempo em "consertadores". Às vezes, sai mais barato, economicamente falando e também na economia do tempo e aborrecimentos, descartarmos o que está avariado e adquirir um novo produto. No entanto, podemos fazer assim com os relacionamentos? Amizade, amor, filhos, vizinhos? Que queiramos ou não, pessoas não são descartáveis e substituíveis. Investir numa relação é sempre uma caixinha de surpresa, mas vale a pena, se não obtivermos a resposta positiva da mudança do outro, pelo menos teremos a certeza de que tentamos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ansiedade : saiba mais

No limite
Medicina tenta oferecer alívio para a ansiedade.




Não se sabe exatamente quantos são os ansiosos no Brasil. Mas sabe-se que são milhões. Para se ter uma idéia, estima-se que existam pelo menos 15 milhões de brasileiros adultos padecendo dos sofrimentos mais graves relacionados à ansiedade. São pessoas que têm desde crises de tontura, diarréia e dor no peito até aquelas que amargam a mais completa paralisação e medo diante de qualquer situação que lhes pareça ameaçadora.

Não é difícil entender o motivo de reações tão extremas. Os ansiosos criam expectativas desnecessárias sobre os acontecimentos futuros, querem resolver as situações antecipadamente e costumam ser pessimistas. Suas preocupações são intensas, duradouras e freqüentes. E, infelizmente, embora ainda não se disponha de estatísticas brasileiras, é certo que o mal vem crescendo. A competição por melhores cargos no emprego e a vida pessoal atribulada são alguns dos fatores que aumentam a ânsia de quem sofre do problema. E mesmo quem não se importava acaba ficando mais vulnerável.

A incidência e a gravidade do problema estão obrigando a medicina a dirigir atenção especial à doença. O resultado é que há várias boas notícias no seu combate. A primeira delas é o fato de os médicos, hoje, entenderem muito melhor a natureza do mal e suas manifestações. Sabe-se que são quatro os principais transtornos associados a ele, motivados por uma ansiedade exagerada. O primeiro deles é chamado justamente de ansiedade generalizada. Ele é caracterizado por crises pontuadas por taquicardia, mal-estar abdominal, tensão muscular, acompanhados de irritação e de uma imensa dificuldade para relaxar diante de situações que gerem ansiedade.

A manifestação de quatro sintomas em um semestre caracteriza um quadro de ansiedade generalizada. Ela afeta a vida social, familiar, profissional e até o aprendizado. Muitas vezes, por exemplo, o cansaço excessivo típico de quem sofre desse tipo de transtorno impede que o ansioso sinta vontade de sair com os amigos. E a irritação acaba descontada nos familiares. No trabalho, a produtividade cai.

Nos vestibulares, o problema fica exacerbado. Algumas vezes, mesmo que o candidato esteja bem preparado, ele não consegue se lembrar de nada no momento da prova. A ansiedade prejudica o rendimento do aluno, fazendo com que ele perca parte da lucidez para lidar com o próprio saber. Foi o que aconteceu com o estudante Francisco Santos, 21 anos, “ao prestar vestibular para medicina pela segunda vez, na hora da prova, eu simplesmente não consegui enxergar nada. Ficou tudo fora de foco, embaçado. Perdi o vestibular por causa da ansiedade e tive que procurar um psicólogo para controlar o problema. Na terceira tentativa, passei no vestibular e estou no primeiro ano de Medicina”. O aprendizado também sai no prejuízo. Cerca de 5% a 8% dos estudantes sofrem de distúrbios de aprendizagem relacionados de alguma forma à ansiedade. A falta de concentração e dificuldades de leitura estão entre as manifestações mais comuns dos problemas a que se refere a especialista.

O ansioso não atrapalha apenas a si mesmo, mas os colegas também. Quando trabalha em equipe, sua ansiedade costuma prejudicar os companheiros. Ele deseja saber a todo momento como andam as coisas e faz as mesmas perguntas mil vezes. Fica afobado e prejudica o andamento do projeto.

Outro problema associado à ansiedade é o transtorno do pânico. Seus sintomas aparecem de forma brusca. O indivíduo está tranqüilo e de repente imagina que uma determinada situação é ameaçadora. Passa a ter, então, sintomas como falta de ar e tontura. O episódio dura cerca de dez minutos. Ele pode sentir medo de ficar sozinho em casa e, por isso, toda vez que se vê nessa circunstância, entra em pânico. As crises costumam se repetir com freqüência. Em um estágio avançado ele evita até mesmo ir ao trabalho. Os especialistas recomen-dam procurar o médico a partir da primeira manifestação. Seu apareci-mento costuma ocorrer depois da adolescência. As fobias também estão relacionadas à ansiedade. São medos irracionais, exagerados e persistentes de situações, objetos, animais. Há quem tenha fobia de sangue, avião, doenças, entre outras.

A ansiedade também está por trás do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). O indivíduo tem imagens ou idéias repetidas. Ele tenta evitá-las, mas não consegue. Por isso, começa a apresentar atitudes compulsivas para afastar os pensamentos. A ocorrência desses transtornos não obedece a uma escala de gravidade. Ou seja, uma pessoa que sofra de ansiedade generalizada que se agrava por algum motivo não terá, necessaria-mente, uma crise de pânico ou de TOC. O contrário também é verdadeiro.

Outro avanço importante na compreensão da ansiedade é a descoberta de suas causas. É verdade que elas não estão totalmente esclarecidas, mas já há boas pistas. A resposta para o fato de um indivíduo ser mais ansioso do que outro pode estar no desequilíbrio entre neuro-transmissores (substâncias que transmitem informações entre os neurônios) envolvidos no processa-mento do humor, como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. A disfunção ocorre numa região do cérebro chamada amígdala, que está ligada às emoções. Existem outras peças se encaixando nesse quebra-cabeça. Há um ano, pesquisadores descobriram uma nova substância, batizada de P, que também estaria relacionada à doença, embora ainda não se tenha mais detalhes sobre sua atuação.

Hoje, acredita-se que a ansiedade tenha influência genética e, por isso, seja hereditária em grande parte dos casos. A educação recebida pela família também é levada em conta. Pais superprotetores e controladores fazem com que suas crianças cresçam num ambiente ameaçador. Elas ficam inseguras e tensas porque estão sujeitas a ser corrigidas ou ter de prestar contas por qualquer gesto. A ansiedade surge como um tipo de defesa. Com ou sem sintomas físicos, como náuseas e dores musculares sentidas por algumas crianças, a ansiedade infantil pode vir acompanhada de dificuldades de relacionamento com os colegas.

Um dos desafios, no entanto, é esclarecer o papel do estresse no surgimento da ansiedade. Os cientistas ainda não sabem qual dos dois aparece primeiro. O estresse tanto surge como fator desencadeante como pode ocorrer depois que o problema está instalado. Mas o resultado no organismo é praticamente o mesmo. Ambos aumentam a produção dos hormônios cortisol, noradrenalina e de crescimento. Essas substâncias diminuem as defesas do corpo, aumentam o colesterol ruim e podem contribuir para o aparecimento de infecções, tumores e doenças cardíacas. Por causa de tanto estrago, a doença ganhou status de prioridade. Em estágios mais sérios, a ansiedade é considerada um problema de saúde pública.

As informações levantadas até agora estão permitindo a aplicação de novos tratamentos. Uma das novidades é o uso dos antidepressivos, principal-mente para a ansiedade generalizada. Gradativamente, eles estão substi-tuindo os benzodiazepínicos ou ansiolíticos. Os ansiolíticos causam dependência porque têm substâncias que tornam o organismo tolerante às drogas. Por causa disso, é preciso aumentar cada vez mais a dose para conseguir os mesmos efeitos do tratamento (geralmente isso é necessário em pacientes que tomam o remédio há cerca de um ano).

Outra vantagem é que os antide-pressivos tratam a depressão que costuma surgir após intensas manifestações de ansiedade. Recentemente foi lançado o antidepressivo à base de venlafaxina. Além de atuar sobre a serotonina, como os outros medicamentos do gênero, o remédio age também na noradrenalina. O resultado é positivo porque a droga atua sobre dois neurotransmissores envolvidos no processo da ansiedade. Uma opção mais saudável de tratamento são os ansiolíticos naturais. Como utilizam substâncias ativas naturalmente presentes nas plantas com finalidade terapêutica, em geral esses remédios não apresentam efeitos colaterais. Contra a ansiedade e depressão, é empregada a raiz da kava-kava (Piper methysticum) sob a forma de cápsula. A planta não causa dependência nem sedação.

Outra estratégia cada vez mais usada contra a doença é a terapia cognitiva comportamental, técnica que vem sendo empregada com sucesso pelos especialistas para cuidar de todos os tipos de transtornos ansiosos. O método expõe gradualmente o paciente a situações geradoras de ansiedade para que ele aprenda a enfrentar seus medos. Do lado de fora dos consultórios, também há iniciativas animadoras. Uma delas vem do Hospital Universitário da USP. Ali, o corpo de enfermagem tenta amenizar o problema entre os pacientes da unidade de terapia intensiva. Uma das mudanças é permitir que o doente receba visitas em horários especiais (além das duas entradas estabelecidas por dia). A iniciativa diminui o estresse de quem está internado. Outro recurso das enfermeiras é conversar com os familiares para dar notícias sobre o estado do paciente. A informação clara reduz a ansiedade da família.

Também há técnicas coadjuvantes que ajudam a controlar os transtornos ansiosos, especialmente a ansiedade generalizada e o transtorno do pânico. No caso da acupuntura, por exemplo, as agulhas atuam sobre determinadas terminações nervosas do corpo e o estímulo é levado até o cérebro. Lá, acontece uma liberação de serotonina, que inibe a crise de pânico.

A meditação é mais um recurso excelente. Por isso, é uma das técnicas mais usadas para controlar a ansiedade. Ela se baseia em exercícios respiratórios e muita concentração. O praticante deve prestar atenção na sua expiração e inspirar normalmente. Dessa forma, ele consegue trazer sua mente para o momento presente, já que a ansiedade está ligada a expectativas futuras. A ioga, outra modalidade indicada para aplacar a ansiedade, também aposta suas fichas nos exercícios respiratórios, além de promover o relaxamento corporal. O objetivo é fazer com que a pessoa volte sua concentração para a sua expiração e o momento presente.

A prática de atividade física é outra forma de aplacar a ansiedade mais branda. Os exercícios estimulam as endorfinas, substâncias que melho-ram a ação dos neurotransmissores ligados ao humor. Uma dieta saudável também é ponto precioso nesse jogo. As verduras, legumes e frutas têm compostos que ajudam a regular os neurotransmissores envolvidos no processamento das emoções. Quem já é ansioso também deve evitar fumar, beber e tomar café, pois os três têm compostos estimulantes que deixam a pessoa mais agitada. Há também estratégias de emergência para serem usadas nas horas em que as crises de ansiedade parecem monstros prestes a engolir sua vítima. Procure respirar profundamente por cinco minutos para que sua taxa de adrenalina baixe e você elimine toda a angústia. Dessa forma, é possível ter calma para enfrentar a situação sem perder o controle.


http://www.hebron.com.br/Revista/n02/capa.htm